quinta-feira, 31 de março de 2011

A pipoca - Rubem Alves


A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.


Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.

Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.

A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.

Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

sábado, 1 de maio de 2010

Pensamento do dia

"'No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é,
e outras que vão te odiar pelo mesmo motivo, acostume-se a
isso, com muita personalidade, determinação e, se puder, paz de
espírito.'"

domingo, 12 de julho de 2009

A Vida

"Por muito tempo eu pensei que a minha vida fosse se tornar uma vida de verdade.
Mas sempre havia um obstáculo no caminho, algo a ser ultrapassado antes de
começar a viver, um trabalho não terminado, uma conta a ser paga.
Aí sim, a vida de verdade começaria. Por fim, cheguei a conclusão de que esses
obstáculos eram a minha vida de verdade. Essa perspectiva tem me ajudado a
ver que não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho!
Assim, aproveite todos os momentos que você tem.
E aproveite-os mais se você tem alguém especial para compartilhar,
especial o suficiente para passar seu tempo;
e lembre-se que o tempo não espera ninguém.
Portanto, pare de esperar até que você termine a faculdade;
até que você volte para a faculdade; até que você perca 5 quilos;
até que você ganhe 5 quilos; até que você tenha tido filhos;
até que seus filhos tenham saído de casa; até que você se case;
até que você se divorcie; até sexta à noite;
até segunda de manhã; até que você tenha comprado um carro ou uma casa
nova; até que seu carro ou sua casa tenham sido pagos;
até o próximo verão, outono, inverno; até que você esteja aposentado;
até que a sua música toque; até que você tenha terminado seu drink;
até que você esteja sóbrio de novo; até que você morra;
E decida que não há hora melhor para ser feliz do que agora mesmo...
Lembre-se: "Felicidade é uma viagem, não um destino". (Henfil)

terça-feira, 21 de abril de 2009

It's me!!!

People, como eu sou doida!!! Minha nossa, sempre fui, mas ultimamente, eu não sei, parece que eu tô piorando..(gargalhadas)
Mas também sou muito legal...gosto de estar com os amigos, se bem que me falta tempo.Tenho uma filha "aborrecente" louquinha tb!! (risos)
Gosto de ler bons livros, bons blogs (esta é nova!), gosto de estudar, de ir ao teatro, cinema, (e como toda mulher) ao shopping, só pra passear um pouquinho, mas acabo comprando o que não necessito..quase sempre...(risos)
Gosto de cozinhar e comer também, mas de comer do que de cozinhar. Gosto de batata frita e pizza, ah!..e de macarronada, como boa descendente de italianos que sou.
Ainda não descobri qual a minha missão neste mundo, talvez seja crise dos 30, que está chegando agora, porque sempre fui retardada!!!(risos)
Sou pessoa do bem, acredito no amor, o mal me dá medo e muita tristeza, então prefiro não pensar muito nisso, senão acabo desistindo e pirando. Acredito que mesmo as pessoas más tem um fundinho de boas, bem lá no fundo, ou não, é bem verdade, tem umas que não tem nada de bom, mas deixamos pra lá!
bjs
boa semana!
Metade.
"Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei."
Oswaldo Montenegro.

Em inglês: Thank you. Em alemão: Danke. Em sueco: Tak. Em turco: Tesekkür. Em japonês: Arigatou.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Goste de Alguém que...

"Goste de alguém que te ame,
Alguém que te espere,
Alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura,
De alguém que te ajude, que te guie, que seja seu apoio, tua esperança, teu tudo...
Não goste do amor...
Goste de alguém
Que não te traia
Que seja fiel
Que sonhe contigo
Que só pense em você,
Que só pense no teu rosto,
Na tua delicadeza, no teu espírito.
E não no teu corpo, nem em teus bens.
Goste do amor...
Goste de alguém que te espere até o final,
De alguém que sofra junto contigo,
que ria junto a ti,
Que enxugue suas lágrimas,
que te abrigues quando necessário,
que fique feliz com tuas alegrias...
E que te dê forças depois de um fracasso...
Goste de alguém que volte pra conversar com você depois das brigas,
Depois do desencontro,
De alguém que caminhe junto a ti,
Que seja companheiro,
Que respeite suas fantasias,
suas ilusões.
Goste de alguém que te ame...
Não goste apenas do amor...
Goste de alguém que sinta o mesmo sentimento por você,
que realmente goste de vc..."
(Luis Fernando Veríssimo)

O Valor e o Sucesso

"Procure ser uma pessoa de valor, em vez de procurar ser uma pessoa de sucesso. O sucesso é só consequência." Albert Einstein